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Mostrando postagens de setembro, 2014

Surpresa

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Trabalhando. Ando três quarteirões até o restaurante onde almoço. Quando estava a três passos do restaurante, me deparo com uma amiga, grávida de sete meses, hospedada no mesmo local. Ela carrega compras. –Deixa eu lhe ajudar. Eu disse. –Mas você não vai almoçar aqui? Você vai voltar lá e levar as compras pra mim? –Sim, qual o problema? –Só acho que você vai fazer papel de bobo. –“Papel de bobo”?!? (Eis o título do post) –Sim. Não preciso que você volte três quarteirões. Eu estou grávida de sete meses, não estou doente. –Eu sei que você não está doente. Está grávida. Não achei que isso seria “papel de bobo”. Achei que seria uma delicadeza. –Então tá: se você quiser andar nesse sol, carregando essa sacola pesada pra mim, por três quarteirões, pra depois voltar pra esse mesmo lugar, fique à vontade... Fui. Chegando: –Vem cá, deixa eu lhe agradecer! (querendo me dar um abraço) –Não precisa, não fiz nada demais. Só estava fazendo o meu “papel de bobo”. Caminhando de volta ao rest

No Lago Negro sonhando com minha neta

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Com pai, chão. É o que sinto. É o que sei. Ninguém que lê sabe mesmo por onde andei. Senti Caminhos. Sobrevivi. Mesmamente. O onde virou quando, o ontem se eternizou. Nas águas do Lago Negro, profundezas. Sento-me à sua margem. Olho de soslaio a foto que me deságua. É bica. É pranto. As marolas do desejo vem cá fazer margem. A grama não molha. O céu que emoldura a foto está impresso na superfície das águas. Às vezes, vemos. Às vezes, não vemos. É o Vento que fustiga a compreensão da gente. Mas está lá, escondido no movimento silente das parábolas líquidas. Áquo-me enquanto percebo a presença gárcica do meu pai. Ele espera imóvel a chegada de sua neta, enquanto observa o céu das águas. Calmo. Calma alma ama. E respira. Nada. E o Vento não tarda a nos surpreender.

Telescópio

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Minha irmã, Gabriela, me fez um carinho difícil de colocar em palavras. Tento. Minha filha mora há 2.222km da minha casa. Lá, foi onde passou o dia dos pais. Gabriela pediu à mãe dela que gravasse: fala pra tia Biba o que você quer que ela compre pro papai de presente de dia dos pais. – Tia Biba, eu quero que você compre um telescópio pra papai! Disse ela, com apenas três anos e meio. Me espanto. Esse pedido é cheio de proximidade. Esse pedido é cheio de referências muito minhas que talvez ninguém ainda saiba. Quando eu tinha cerca de 10 anos de idade, Beto Bomfim, meu amigão – amigo do meu pai que me adotou como uma espécie de afilhado – me deu de presente uns binóculos. E isso marcou pra sempre a minha infância. Me marcou porque não pedi isso a ele. Me marcou porque, já naquela idade, intuí todo o simbolismo referente a um presente como esse... Me marcou porque foi meu amigo querido que morreu ferido com carvão em brasa pela palavra sexo, pela palavra

O dia do voto

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Voto. Nunca consegui ouvir ou ler essa palavra como um substantivo. Sempre ouço ou leio como um verbo. E na primeira pessoa do singular. A singularidade do voto é interessantemente bela. Porque nos fala da inserção social. Porque nos lembra da beleza de um grão de areia. Porque dignifica a gota no oceano. Não há como eu pensar essa imagem e não me lembrar de um filminho manjado, se eu não me engano da década de oitenta, do rapaz jogando as estrelas do mar que estavam na praia de volta no oceano. E quando perguntado: – São milhares!, você acha que jogando de uma em uma vai fazer a diferença? E o rapaz responde: – Fiz a diferença pra cada uma delas que joguei de volta... É mais ou menos isso... É que no caso do voto, cada um de nós é a estrela do mar. E não há ninguém que nos jogue pro oceano. Depende de cada um de nós, pro oceano ficar estrelado... Você já viu como um só grão de areia é lindo? Não temos a dimensão de um, até o separarmos do resto na pon

Código Morse

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Morro de amores. Montanha, mesmo. Talvez cadeia. Cumes. Picos. Amar não tem sido um verbo muito conjugado. Talvez amar venha sendo conjulgado. Réus algozes, tribuna de todos, juízes facebookiânus que jogam pimenta refresco. As mazelas da convivência digital. O desrespeito social. O limite, quando virtual, deixa de ser físico, palpável, táctil. Con-fundem-se liberdades. Con-fundem-se fronteiras. O romantismo do Rouba-bandeira mora na infância. Lá, sentidos. Fui postar um coração numa foto. O carinho dos meus dedos na tecla nunca se fizeram sentidos. O toque nos cabelos da menina não exalaram perfume. Os beijos no rosto não molharam o tempo. A banalização do afeto diminui o significado do encontro. E, triste, escrevo no blog: "morro de amores". *imagem: mantiqueirista.blogspot.com

Quem quer mudar o nome da Branca de Neve levanta a mão.

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Acho que a gremista Patrícia Moreira merece perdão. Acho que seu erro deve ser punido. Há muito é necessário perdoar. É preciso que aprendamos o perdão, de forma definitiva e absoluta. Todos nós merecemos perdão. "Quem nunca pecou, que jogue a primeira pedra" - disse o primeiro filósofo a ir às últimas consequências com esta ideia revolucionária. A verdade é que pecamos, todos. E nem sempre por mal. Ninguém aqui está fazendo apologia ao erro. Ninguém aqui está fazendo apologia ao preconceito, ninguém aqui está fazendo apologia ao esquecimento. Não: perdoar é muito diferente de esquecer. Coisas distintas. Perdoa-se. O que não quer dizer que se esquece. Não necessariamente. Já perdoei. Muito esqueci. Mas não tudo. Lembrar o erro, tanto o seu quanto o dos outros, é importante para que ele não se repita. O presidente do Grêmio está certo: se esse episódio servir pra abolir definitivamente esse tipo de atitude nos estádios, o Grêmio terá cumprido um papel histór

Volta

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Dorme silêncio. Vou-te escuta. Sigo presença, falta medida, encanto esperança. Dança. A flauta do meu Amor soa apito de navio. Canta distâncias. Desbrava mares. Ondas de querer que me atormentam saudade. No voal da janela, o Vento brinca baile.  Sopra cama. Inspira sonho.  O caracol do cabelo enlaça o dedo do Vento. Sou sentimento, sou, sem ti, mentira do momento. Sou infante, infame. Mas sigo.  Inflame.  Quando crepitarem as estrelinhas da nossa fogueira,  pai chão, o terreno por onde andarmos vai deixar de existir. E seremos no colo do Vento.  Estaremos, mãos dadas com o Tempo. Encantados, nosso mútuo peito travesseiro.