Pare, olhe, escute


Encontrei essa foto compartilhada pelo querido amigo meu e das letras e dos sonhos, Fernando Fabbrini. Ela veio a calhar. Na verdade, encaixou como dedo no nariz.

Estou farto. E não é de comida. Os Titãs é que estavam certos. A gente não quer só comida. Ouvi a discussão de um casal e isso me deixou intrigado. 

Ela: – Porque eu sei que você já teve um relacionamento com A, B e C. Eu pesquisei (no google, claro) e descobri que fulana, beltrana e cicrana blablablá, ticotico, nheconheco. 

Aliás, acho que ela falava mais do nheconheco.

Ele: – (       ).

Fiquei pensando: sou antigo. Eu era do tempo em que essa pesquisa era feita no tête-à-tête, na pergunta e resposta, no olho no olho. A verdade era verificada na palavra. Mas não na palavra escrita na tela do computador por sei-lá-quem. Porque o olho no olho importava mais. Porque o olho no olho tinha mais valor.

Talvez você já tenha presenciado a seguinte situação: uma pessoa quer lembrar algum nome em uma mesa de boteco. Ou uma pessoa tem dúvida sobre algum dado. Do tipo: qual é mesmo a capital do Nepal? OK, você pode não ter pestanejado sobre "Katmandu". Mas se alguém na mesa tivesse dúvida, ao invés de confiar na palavra do outro, sua atitude imediata seria conferir no google.

O google nos tira a credibilidade? O google nos tira as certezas? O google nos tira a informação precisa? Ou vai acabar por nos tirar a cultura? A sabedoria? A ponderação?

Qual o tempo da incerteza? Por quanto tempo aguentamos ficar ignorantes? Será mesmo que a resposta com a profundidade de um box de banheiro nos redime e nos tira da escuridão? Ou será que confiar na palavra do outro, aprender com o semelhante, aprender a ouvir está mesmo fora de uso?

Onde vai parar a sabedoria dos griôs? Onde vai parar o conselho dos mais velhos? Onde vai parar a palavra do pai, da mãe, do irmão mais velho? Ou... onde vamos parar? O mundo muda, é verdade. E a dinâmica do mundo depende de toda mudança, de todo movimento. Sabiamente, imagino que tenhamos que ouvir os índios norte-americanos. Que de tanto em tanto paravam as caravanas. Questionados pelo homem-branco, respondiam: temos que parar um pouco e esperar. Andamos muito. Paramos para que nossas almas nos alcancem.

Acho que eles têm razão. Nossa alma está mesmo ficando pra trás. Talvez, por isso, eu tenha decidido andar bem mais do que correr.






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