Gente em volta

 
 foto: abril de 2010
O momento da solidão. Quem disse que é preciso de gente à sua volta o tempo todo? – instiga em tom de desafio.

Em mundo pautado por Facebook, solidão tem outra dimensão, cara amiga. Eis o que penso. Cabe um exercício...

Me faz lembrar que há tempos, uma outra amiga, à época com seus 45 anos, filhos de 23 e 21 anos, teve o susto de ser surpreendida com um “pedido” de separação. O ano havia sido difícil e resultou num natal e reveillon inesperado: uma viagem sozinha para Londres.

– Vai ser bom pra eu colocar os pensamentos no lugar, colocar meus valores na balança, repensar minha vida, sabe? Foi ótimo eu ter decidido viajar. Dizia ela.

Claro, a conhecendo bem como eu conhecia, estava esperando que completasse o que ainda faltava dizer, mesmo que o discurso estivesse coerente... Na verdade, estava em pânico. Se esta era a fala que tinha treinado pra tranquilizar os amigos próximos, os muito próximos sabiam que ela estava aterrorizada com a ideia de ficar sozinha.

Depois que veio à tona a confissão reservada, coube a mim a reflexão: Sabe, vou lhe dizer uma coisa, pra você refletir. A melhor companhia que você pode ter na vida é a sua. Quando descobrir isso, sua perspectiva sobre as relações passa a ter um sentido novo, eu disse.

Assim, partiu. E quando voltou, me contou que dentro da St. Paul’s Cathedral, na noite de natal, qual foi sua surpresa ao chorar de emoção tendo finalmente se reconhecido como companhia possível, prazerosa, divertida, saudável. E me agradeceu num abraço, lágrimas nos olhos.

Ficar só e se sentir só são coisas distintas. O Amor – em seu sentido mais amplo – tem seus mistérios. Quando se descobre que Richard Bach está certo ao postular “Longe é um lugar que não existe”, fica até mais fácil compreender a coexistência em nós de pais, filhos, irmãos, amigos, Deus...

...e para os mais escolados, cabe a compreensão filosófica do encontro com os nossos tantos eus... mas isso já é pauta pra outra postagem.


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