A cor do perdão



A doidinha da minha filha adora capacete.

Agora, arrumou um rosa. Com uns bichinhos desenhados, uma viseira enorme, uma coisa. E fica ela ali, a olhar as coisas de capacete.

Talvez esteja certa. A gente precisa mesmo de um capacete no mundo de hoje. Pra ser homem-bala, pra aguentar as pauladas, pra bater nos postes que nem sempre pareciam estar ali, no caminho.
Quem tem um capacete?

Eu tenho 3. E nem assim eles evitaram que eu me pusesse em rota de colisão total. A gente bate no muro, a gente bate na cerca, a gente toma paulada de tudo quanto é lado. Fora as pauladas que a gente mesmo dá.

O capacete é uma forma de perdão. Perdão adiantado, quando a gente sabe que ainda vai bater a cabeça. Perdão presumido, quando a gente pensa... "é, é capaz de eu ainda bater a cabeça". Perdão confesso: "eu já bati a cabeça e pelo visto ainda vou bater mais... deixa esse capacete aí, onde está".

No caso da minha filha seu perdão tem gatinho e cachorrinho. Eu sei o porquê.

O perdão da minha filha é rosa - como deve ser o perdão de toda criança, mesmo. Um ingênuo perdão.
Por isso, peça logo desculpas para a criança ao lado. Aproveite que seu perdão ainda é rosa.

Ah, aproveitando o ensejo: qual a cor do seu perdão?



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Indico "A alma imoral" e "Ter ou não ter, eis a questão!"

Para Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque

Rascunho