O lado bom de ser livre



Não sei, saí deprimido do cinema.
O Lado Bom da Vida é muito bom (eu digo, o filme), muito divertido, uma comédia que mistura um drama no meio, e não é totalmente comprometida pelos exageros que a gente vê normalmente nos pastelões americanos. Os atores estão muito bem, principalmente a gatinha do filme, Jennifer Lawrence e a bola da vez, Bradley Cooper.
Nas partes que o roteiro não estraga o papel dos coadjuvantes, eles também batem um bolão, na verdade.
Ainda estou querendo entender o filme. Claro, não tem nada para ser entendido. Eu é que fico querendo entender o que nem sei se é pra ser entendido.
O fato é que ainda não sei se o drama é só escada da comédia, ou se ele tem um fundo de reflexão, sabe? Existem muitas e muitas pessoas que sofrem com a dificuldade abordada no filme. Uns velados, uns abertamente, outros nem sabem que têm essa dificuldade. Eu não sei (exatamente) até que ponto foi retratado com a máxima fidelidade esse transtorno - que hoje é comum -, mas no que me diz respeito, fui compelido a sentir compaixão pelo personagem principal. Do alto da minha santa ignorância, acredito que existam muitos níveis dos mesmos transtornos retratados no filme, que atingem a gente, diagnosticados ou não.
Eis um aspecto humano do filme digno de nota.
Pelo menos pra mim, que tangenciei, de modo solidário, de algum modo, sentimentos difíceis de serem trabalhados pelo personagem principal.
Confesso que quase chorei (o que deve ser lido aqui como algo bizarro, acho que ninguém choraria num filme como esse. Ou choraria?).
Ah, quero aqui levantar um paralelo, justamente com o título e a oportunidade que esse filme me parece ter perdido, com outro filme que também está em cartaz: Django Livre.
Sim, acho que o lado bom da vida, seria justamente o que busca o Django. Mas, sejamos sinceros, quem parece ter encontrado foi Quentin Tarantino.
Enquanto O Lado Bom da Vida não é totalmente livre, e por este motivo perde a oportunidade de ser um filme 10 vezes melhor do que é, Django Livre é efetivamente livre, e das mãos de Tarantino, saiu uma nova obra prima. Pode não ser o melhor filme do diretor, mas é uma obra da sétima arte, sem dúvida. Não foi, como o Lado Bom da Vida, cerceado pelo jeito americano de se fazer cinema. Pelas soluções fáceis e já óbvias americanas com o intuito de tornar-se um caça níqueis.
O Lado Bom da Vida poderia se tornar um filme da prateleira A, mas bate na trave. O roteiro e o diretor escolhem fazer um filme americano. Quando poderia ser um filme universal.
Bom, eu acho.
Agora, vamos nos levantar e bater palmas: em primeiro lugar para o Tarantino.
Primeiro pela cena da reunião dos encapuzados (putz, veja o filme. E vá de fraldas geriátricas pra não mijar na calça, como eu).
Segundo, porque, inclusive, Tarantino disse que seria o seu último filme - já que estão dispostos a "enquadrar" seus filmes, assim como "enquadraram" O Lado Bom da Vida -.
E, por último, mas não menos importante, ovacionar quem merece de fato, de todo mundo que apareceu aí nessa pseudo-crítica até agora: Christoph Waltz.
O cara bateu o recorde. Sen-sa-cio-nal.
Quase me fez esquecer do tanto que a Jennifer Lawrence é sensacional.
Eu disse "quase".
O lado bom da vida, mesmo, é assistir a um filme em que o cara mete os peitos e faz o que acha que deve. Livremente. Ou seria "livrerdadeiramente"?








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