Mesmo




Meus escritos
não são belos como a Gabriela, inteligentes como a Serpa, mágicos como as histórias da Guiomar, fortes como a minha irmã. Não são amantes da vida como o Mastrocola, sensíveis como a Raquel, indignados como a Rachel, exemplos como o Wernek. Nem de longe coloridos como a minha mãe, audazes como o meu pai, profundos como a Izabelle, ricos como o Eike. Não são pops como o Michael, jazzísticos como o Nelson ou brasileiros como o Adelson. Meus escritos não são páreo para o humor da Laura, não são filosóficos como Rubem, não são densos como Zezito. Ou rápidos como a Menina Vento, ou céticos como a Yara, ou frágeis como as flores do meu bonsai... Meus escritos não conseguem captar o hiato das viagens criativas de Beatriz, minha filha de um ano e sete meses. Meus escritos não são nada se não o amor perdido. Escrevo para encontrá-lo. Escrevo como quem corre uma meia maratona para ganhar a oportunidade de um namoro. Escrevo para ser evo, o eterno, o masculino da eva, a completude da beleza feminina, a faca no queijo, o leite no café, o ovo no pão, o azeite no tomate. Meus escritos não são nada. Nem sei porque leu até aqui. Meus escritos são o desejo da beleza indizível da Gabi, da perspicácia ousada da Serpa, da fantasia expansiva de Guiomar, da potência firme da minha irmã. Meus escritos querem alcançar o amor da vida do Mastrocola, a sutileza equivocada da Raquel, a indignação impossível da Rachel, a beleza do pai Wernek. Meus escritos queriam ser o lápis de cor da minha mãe, queriam ser o jeep do meu pai, o lago da Izabelle, o iate do Eike. O Billie Jean do Michael, a Ella do Nelson, o brinquedo de linha e latinha do Adelson. Meus escritos queriam ser a picância da Laura, a velhice do Rubem, a sabedoria do Zé Coelho. Queriam meus escritos ter os pés e o coração da Menina Vento, os cabelos da Yara, a seiva do amor de um pai que dói. Meus escritos são para Beatriz ler. Meus escritos são minha peregrinação pelas palavras me dadas por Deus. Que compilo, que empilho, que empalho, que, paspalho, só sei chorando escrever.

Nas páginas em branco, meu amor consegue ser ainda maior. Mas muito mesmo.

Comentários

Alice disse…
:) Eu gosto deles.
Bê Sant Anna disse…
Que delícia de comentário, Alice. Sou muito grato, não sabe o tanto.
Carol disse…
Saudações de uma pessoa way...

Cara, estou arrepiada. De verdade!
acho q estou viciada em seu blog!
E olha q eu não gosto muito de ler..
O melhor é como eu cheguei aqui.. com uma simples pesquisa no google: 'a paula toller ja sabia cantar?'

JURO! e li seu post sobre ela, li sobre Beatriz e agora estou viciada por favor nunca pare de postar, parece q estou lendo um livro..haahah e eu torço muuito de verdade para que esse encontro tão esperado aconteça o mais rápido possivel (vc e sua linda filha)!

enfim, me senti na obrigação de pelo menos comentar algo. pq estou completamente comovida com essa publicação.
Desculpa a ignorância, e nao escrever lindamente como vc escreve mas, eu definitivamente precisava falar isso , HAHA!

ADEUS, e mais uma vez... Belas palavras!
Bê Sant Anna disse…
Carol, grato por ler e comentar.
Na verdade eu e minha filha já nos encontramos. A gente se encontrava pelo menos 3x por semana antes da mãe levá-la pra 2.200km de distância, e impor regras judiciais absurdas para que eu a veja. Hoje, não a vejo desde maio. Mas não vamos julgar nada disso. Quem deve julgar se isso é bom ou não é minha filha, não sou eu, não é a justiça e nem ninguém a não ser ela. Continuo indo pelo lado do amor e aguardando a clarevidencia de quem precisa, pode, quer ou consegue. Torça pro amor, só isso. Se essas palavras servirem pra pensar, pra sonhar, pra regarem de alguma forma coisas boas, fico feliz.
Bê ijo e até breve.

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