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Mostrando postagens de setembro, 2012

Mesmo

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Meus escritos não são belos como a Gabriela, inteligentes como a Serpa, mágicos como as histórias da Guiomar, fortes como a minha irmã. Não são amantes da vida como o Mastrocola, sensíveis como a Raquel, indignados como a Rachel, exemplos como o Wernek. Nem de longe coloridos como a minha mãe, audazes como o meu pai, profundos como a Izabelle, ricos como o Eike. Não são pops como o Michael, jazzísticos como o Nelson ou brasileiros como o Adelson. Meus escritos não são páreo para o humor da Laura, não são filosóficos como Rubem, não são densos como Zezito. Ou rápidos como a Menina Vento, ou céticos como a Yara, ou frágeis como as flores do meu bonsai... Meus escritos não conseguem captar o hiato das viagens criativas de Beatriz, minha filha de um ano e sete meses. Meus escritos não são nada se não o amor perdido. Escrevo para encontrá-lo. Escrevo como quem corre uma meia maratona para ganhar a oportunidade de um namoro. Escrevo para ser evo, o eterno, o masculino da eva, a complet

Você joga xadrez?

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Deus parece que joga xadrez, eu disse. Ela respondeu: se é xadrez que ele joga, tem um adversário. Detesto gente inteligente, porque eu amo gente inteligente. O bom do amor é que ele é diferente da cesta de laranja. Quando a gente distribui laranja, a cesta esvazia. A cesta do amor parece que enche. Com quem Deus joga xadrez? Ela falou que é com o "Não-Sei-Que-Diga*". Será? Será com a gente? Ou será que sou só peão? Eu, peão, vou pro embate. Morro primeiro. Eu, peão, não tenho problema em ficar no quadrado branco ou preto. O problema do eu, peão, é que não sei voltar. Eu, cavalo, não ando reto. Passo por cima, mas não sigo o mesmo caminho. Mudo sempre pra outra direção, difícil saber onde minha estrada vai dar. Eu, torre, não sou flexível. A cruz do meu caminho é ir pra frente ou pra trás, pra um lado ou pro outro. Sou muro. Escudo, sou vulnerável. Eu, bispo, tangencio. Meu olhar enviesado não vê o mundo de frente. Não sou rei, muito menos rainha. Não so

Para Fernando Netto

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A bela e delicada maquiadora pingou uma gota em cada olho. De olhos fechados, elas bem que puderam se multiplicar um pouquinho, sem causar curiosidade ou estranheza. Mais cedo, no elevador panorâmico, colou no vidro e levantou os dois braços até o teto. A subida induziu a lembrança. A lembrança da fantasia trouxe a emoção correlativa, incitando a saudade. Se lembrou do carnaval de 1977, vestido de Batman, quando reconheceu o seu melhor amigo, o Superman. Não, não era o Robin. O Superman tinha um redemoinho na testa, cabelo escorrido e nariz de batatinha, uma alegria pacífica, mar em calmaria que induz o sorriso. Ainda bem que existe o John Williams pra orquestrar as músicas tema dos sonhos infantis, que não se resumem a cantigas de roda. A grandiosidade sinfônica alcança, na ponta do pé, quase pulando, o tamanho do sonho de menino. Pensar na lembrança, se entregar de corpo e alma, é volver ao sonho, se conectar com o clima, fazer amor com a saudade. Re-viver. A saudade também

Metonímia

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Rubem Alves é um pai. Tipo. Ou um avô. Adoro ler seus livros. Adoro seu jeito de falar sempre a mesma coisa, de maneira diferente. Um Alfredo Volpi das palavras. Suas palavras são bandeirinhas coloridas na minha mente. Não, não mente. Fala a verdade. Flamulam. Um Amílcar de Castro que me desgeometriza geometrizando. Se é que isso é possível. Já li uns 6 livros dele. Gostava de citá-lo em sala de aula. Meus alunos se lembram disso (espero). Ganhei de presente de um sonho de amiga um livro dele de aniversário. Aliás, ganhei 2. Já li os dois. Acho que são 8, agora, os livros que li dele. Hoje cedo, me lembrei dele no café da manhã. Diz o Rubem Alves que o peso de papel da escrivaninha dele faz lembrar seu pai. Era o peso de papel do pai dele, claro. Como diz ele, não podia ser metáfora, que o peso não se parece com o pai. É metonímia. Me lembrei dessa passagem do seu livro "Ostra feliz não faz pérola" quando peguei duas fatias de queijo minas e coloquei mel. Dos 11

Ondas do mar, do há mar do meu pai

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Pai, olho do mar de mim. Atravesso. Escuto o barulho das ondas. Sei do abraço, sei do laço, sei do querer. Foi me dada a faculdade de ver. O vento balanceia meus cabelos. Meu olhar é lânguido assim, sou assim, pai. Essa sou eu. Atrás do vidro, atrás da rede de proteção, atrás da grade, atrás do seu olhar estou. Você vai chegar pelo mar? Da barriga da mamãe eu escutava você cantar. Quando chega a noite, procuro a estrelinha da música, a que você vai trazer pra mim quando eu crescer e você comprar um avião. Você vem, afinal, de avião ou barco, papai? É você ali, correndo na areia? Onde você está agora? Trabalhando? Pensando em mim? Sentado no box? Querendo um abraço? Há mar dentro de ti, pai. Posso sentir. Há mar dentro de mim, posso sentir. Por isso que quando a gente chora de saudade, nossa lágrima é salgada. É um pouquinho do há mar que transborda, em ondas que ouço, barulho das ondas revoltas, há mar, nós dois. O vento atiça as ondas do seu peito, pai. Daqui lhe vejo. Daqui

Vamos ventar juntos?

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V ente. Este é o título do meu livro 2, que já está na gráfica. Hoje, pela manhã, a terceira revisão foi feita, pela Trema, que tem nas mãos a prova da gráfica, e aprovada pela Designlândia. Vamos rodar! Dia 01 de novembro de 2012, o lançamento no lindo  Memorial Minas Gerais Vale , na Praça da Liberdade, que faz parte do Circuito Cultural Praça da Liberdade (conheça!!!). O horário eu conto depois. Encomendei 1.000 cópias iniciais. E fico feliz de ter recebido um email da Karina Militão, do Novo Céu , aceitando gentilmente a parceria que propus, em nome da Beatriz, Dudu e Clara. O valor das primeiras 500 cópias vendidas do livro serão revertidas integralmente ao Projeto Assistencial Novo Céu . Poderia fazer assim: 50% pro Novo Céu, e 50% para os custos. Mas dessa forma, destinando 100% do valor das primeiras 500 unidades, temos mais chance de realizar essa ajuda da Beatriz, do Dudu e da Clara. Pelos cálculos, o livro teve um custo unitário de R$ 12,50 reais a unidade.

#brotoquesou

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foto* Árvore ceifada na copa. É tronco. Perde suas folhas, perde seus galhos, perde seu viço. Dá broto. Cadê o balanço que estava aqui? Cadê a sombra, cadê o vento, cadê as folhas que caem mansas? Cadê o ninho, cadê forquilha, cadê os líquens, cadê o musgo, cadê gato? Árvore ceifada na copa é tronco. Dá broto. O tronco que bóia na água é balsa. Abarca. Pensamentos que correm molhados nas margens de mim. Eu rio, eu tronco, eu árvore ceifado na copa. Broteu. Nasce broto, meu plexo solar. Rompe pendão, meu dedo de viver. Raízes se espalham em mim, capilares que envolvem meu coração. Cresce pendão,  meu dedo de viver. Deus me aponta, sou tronco quase seco de um broto só. Floresta desejo, gramíneas vicejo, orquídeas dependuradas nas minhas esquinas. Brota, na grota, o profundo do ser. É lodo molhado, caverna pingando, ecoo lamento, eu sinto muito. No dedo que tenta, a seiva do amor não desiste, em si. Insiste? * na foto acima, o bonsai de Beatriz, comprado lo

Olhe dentro do armário quando for dormir

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Posso falar sobre a solidão? Sólida ida, hão de dizer, para sem-pre-ferida instalada na alma da gente. A gente sente. Que há outro. Couro. Canto. Choro. Meu couro curtido não curte. Terra batida não mente. O sol seca o caminho por onde passo. É quente o solo, é quente eu solo. Solo que trinco nas beiradas do ser, no encontro com o outro. A água escorre entre nós sem que saibamos molhar-nos-nus, revestidos da chita da ingênua incompreensão. Meu pensamento é uma cortina de fuxico. Não sei se abro. Não sei, se abre. Há um pedaço de mim no mundo que cresce sem que eu estrague. Há um vazio no mim profundo que eu sem medida-de-ser. Há um jeito de olhar no caminho que diz: pais agem. Ficar parado nunca foi fazer nada. Ouço passar, todos os dias, os passos que a levaram para de mim distante, para sempre. E o berço vazio grita na noite sem bicho-pai-pão.

O estribilho do amor

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Já comentei aqui sobre o diálogo de Jodie Foster e Matthew McConaughey (putz, conferi 3 vezes o nome desse famigerado pra escrever aqui no blog - imagino ele aprendendo a escrever o nome na escola, tadinho). Ele, reverendo. Ela, cientista. O embate entre ciência e religião posto à mesa. Zapeando, depois de suspirar com a Sharapova, caio justamente na cena que já vi várias vezes: Festa, filme Contato, ele diz: - Não imagino viver num mundo sem Deus. Ela: - eu preciso de provas Ele: - provas? você ama seu pai? Ela: - sim, muito . Ele: - prove . É assim. Amor não se prova. Deus se prova. Tem gosto de amor. Amor se prova. Tem o tempero de Deus. No filme, dentro da máquina espaço temporal em que faz a viagem extra terrestre, ela finalmente encontra galáxias, vislumbra o espaço, toda a criação, o uni-verso palavra de Deus, prova o sabor de saber além da crença, e diz: - deviam tem mandado um poeta! eu não tinha ideia!... Não, ninguém tem. Porque não passa pela ideia, pela

One for two

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Osso esse ofício de agradar, eu disse a ela em uma de nossas conversas. Difícil "ter que". Se superar a todo instante, difícil esperar, difícil querer, difícil escolher, dofícil amar. Quando Pessoa anuncia, meu dia amanhece. Fiz um Haikai pra Laura Barreto, a amante dona do blog Ócio do Ofício : Haikai para Laura Na lua da Laura respiro. Eu dizia desse jeito de ser meio alegrefusivo, que no meu caso, muitas vezes, vem com aquele dizer: -– - Suas balas não me atingem! Meu humor é como uma couraça de aço! Mas essa é uma história compriiiiida, que não vem ao caso aqui... Conheci Laura - ela não sabe - por "indicação".  A melhor amiga de uma paquerada no Verde Mar me mandou o  link  ( "Vai sair hoje? Não, vou pro Verde Mar!" ), por ter achado divertido ter acontecido comigo e com a amiga dela algo semelhante ao que Laura divertidamente anuncia em seu blog. De outra vez, ela usou uma foto minha em um post dela. E eu não a conhecia, já

Sobre a maravilhosa propriedade farmacológica do picolé de milho verde

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Ingredientes: Água. Do mar. De todo o oceano. Com seus peixes, arraias, tartarugas marinhas, golfinhos, monstros do mar. Com suas tormentas e sua calmaria. Com um novo dia. Com lua brotando molhada, riscando de luz nossa estrada líquida, nítida, mística, cíclica. Açúcar. Doce do mel das mãos de minha avó. Suas unhas vermelhas que confeitavam o bolo. Olhar de bala puxa-puxa. Maçã espetada no palito esperando do lado do fogão pra caramelada-se-ar. Um pouco de amar. Polpa do seu bumbum durinho de menina, cheirinho de neném de fraldinha, me um-milho verde, cru, pai de primeira viagem. Vi. Agem. Também ajo. Parar e esperar é diferente de não fazer nada. Acho. Ajo. Gordura vegetal, êita que a natureza tá precisando de um regime. Nem sabia que vegetal tava gordinho. Leite em pó das tardes de menino, misturado com Nescau pra jogar seco na boca e fazer confusão, quando via desenho sentado no puf. Pluft, o Fantasminha. Onde tudo começou. Já tinha vocação pra Tio Gerúndio... Xarope de glicos