Bruce Parry, Luciano Hulk, Didi Mocó e eu


2 dias de cama, febre baixa, garganta e humor inflamados.
Mais televisão, um pouco de impaciência pra ler. Nessa hora agradeço a assinatura da NET HD. Mesmo que o custo benefício seja questionável, já que praticamente não vejo televisão, só Bom Dia Brasil, pra falar a verdade. E em uma situação como essa, vejo a BBC HD.
Nela, Bruce Parry.

Quando comecei a ver uma série de documentários da BBC HD, seu nome em português era A Amazônia de Bruce Parry. Não entendi o porquê, já que o título em inglês era Amazon with Bruce Parry. Imagino que um de bom senso deve ter levantado essa lebre na emissora, ou mandado algum email, algo do gênero, até que alguém lá dentro se tocou e mudou pra A Amazônia com Bruce Parry.

O fato é que, da mesma maneira que fico feliz por um lado como a globalização diminui as fronteiras, fico triste em saber que precisamos que um inglês de uma tv inglesa venha até aqui (como se a Amazônia fosse aqui) pra fazer um documentário "mais completo" (entre aspas) sobre a Amazônia e suas várias faces. 

Acho que perdi a conta das vezes que o Globo Repórter usou a Amazônia como tema. No entanto, é impressionante como o documentário de Bruce Parry me parece muito mais próprio. Acredito que pela sua sensibilidade, sobretudo. O olhar de Bruce Parry é fundamentalmente respeitoso. E, como ele mesmo diz, em uma entrevista em um site denominado Tribo tenta não fazer julgamentos.

Bruce Parry é um tremendo apresentador. Fisicamente, uma mistura de Didi Mocó e Luciano Hulk. Suas rugas parecem ser de alegria, de sorriso fácil, se coloca à disposição "pela lente do amor" - como diria Gilberto Gil. Se comunica bem, tem na simpatia seu primeiro aliado. Para os telespectadores não fica claro quais as dificuldades reais enfrenta nem o tamanho real da produção que o acompanha. Nos parece que é ele mais um cinegrafista. No entanto, é claro que bons produtores vão fazendo a "trilha por onde passa", e que deve ter bons tradutores - que não aparecem (são 16 pessoas na equipe, na verdade). No documentário sobre a Amazônia, ele simplesmente saiu da nascente e foi pra foz, vendo toda a realidade do rio, dos ribeirinhos, das comunidades impactadas por ele, que o impactam, ou seja, o meio e seus personagens reais. Com respeito e, sobretudo com humildade, nos convida a observar aquela realidade que tem prós e contras, belezas, fraquezas, coisas boas e ruins... enfim, as coisas como são. E o mais bacana, ele relativiza o julgamento. A cada encontro, participa um pouquinho de sua realidade. Por exemplo: ele encontra e entrevista quem trabalha para o trafico de drogas. Da mesma forma, sai com o exército a procura de traficantes. E por aí vai, encontrando e vivenciando um pouquinho da realidade de índios, prostitutas, garimpeiros, borracheiros, lenhadores, pescadores etc. E participa efetivamente de suas vidas por dois, três dias, uma semana, enfim. De carregar material pra traficantes, cortar árvores, pescar jacarés, tomar ayahuasca, o cara faz de tudo. E faz tudo sem dizer: o garimpeiro é malvado, o lenhador é malvado, o índio é bonzinho, o cara que planta a folha de coca pro traficante é malvado... e assim por diante. Seu personagem principal é o rio. E viver um pouquinho de cada realidade sem preconceito. Hoje está passando um sobre o Ártico, com Bruce Parry. Igualmente interessante! Ver esses documentários é como ir à festa de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, quando fiz a matéria de Antropologia com José Marcio, na PUC, um dos meus maiores mestres.

Bem, o Globo Repórter é só mais um programa de entretenimento, não um programa que seu objetivo final é a informação. Então, como competir com um documentário, onde o cara fica, sei lá, 6 meses vivendo em uma floresta estudando de fato hábitos, costumes, realidades, enfim?

Acredito que os jornalistas, apresentadores, repórteres do Globo repórter sintam o mesmo que eu, quando vejo um documentário como o de Bruce Parry. Um programa semanal de um assunto diferente não pode ter mesmo a mesma profundidade. Ou seja, ficamos só com a superficialidade e com a venda de comerciais. A isso estamos presos. É o capitalismo fazendo vítimas não só nas florestas da região amazônica mas aqui, do outro lado da tela.

Assim como os Estados Unidos fizeram do cinema a principal forma de propagar seu poderio e cultura, alguém de bem e de visão da Globo deveria montar "um canal" - ou programas - que fosse realmente ligado ao conteúdo, não à venda de anúncios e investir nisso, pra conquistar o mundo, já que o Brasil já está conquistado... (na verdade, esse parágrafo mereceria um artigo de 12 páginas, mas vou deixá-lo aqui, assim, raso, pequeno, menor, simples, básico, pouco, uma pílula apenas, como um Globo Repórter sobre a Amazônia... Afinal, não trabalho na BBC, nem na Globo, não sou Bruce Parry, nem o Hulk e nem o Didi.)

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