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Mostrando postagens de julho, 2012

Makiwara do amor.

O amor bate à porta do hotel simples, na cidade do interior. Janela simples, sem armários, sem banheira, sem sofá, sem decoração. Ainda assim, ouço o amor batendo. Ele bate batendo, toc, totoc-toc... é ele mesmo. Pela batida eu sei quando é. Ele bate quando cumprimento a moça do balcão. Bate quando pergunto o nome da atendente do restaurante do shopping, bate quando a cozinheira ri pra mim, vítima da minha brincadeira de menino. O amor bate. Alguém, algum dia, vai convidar o amor pra participar de um vale-tudo, só pode, um UFC. Porque o amor bate pracaralho. Eu não deveria ter dito assim, pra não perder a poesia, mas não tem jeito não, ele bate demais mesmo. Ele bate de levinho, bate com força, bate em menino, bate em moça, bate em velhinho. O amor bate a qualquer hora do dia ou da noite. O amor bate no banheiro, bate na sacada, bate no sótão, debaixo da escada, o amor bate na goiabeira lá do sul do país. Com ou sem goiaba. O amor é danadinho. O amor é um sacana, ele bate quando a gen

Para... bem, era para a Fabiana.

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Ei, Fabiana Ferraresi. Levantei 3 da manhã pra lhe escrever isso, porque fiquei pensando no poema V ENTE, que dá título ao meu segundo livro. Isso está forte demais dentro de mim. Acho que a solução que a Designlândia conseguiu com o Motion Graphics, que amplia o sentido do poema, ficou simplesmente incrível. Ou, ficou incrível, simplesmente. Parece a mesma frase, mas não é. Que bom que reafirmamos a nossa sintonia artística em um trabalho cheio de amor e verdade. Amor como poucos, verdade como nenhuma outra. Para mim, curioso é saber que essa verdade já foi questionada. Curioso é saber que esse amor já foi questionado. Curioso saber (e fazer) artístico, esse meu, que independe do outro, da questão, do amor, da verdade, da curiosidade. Eu me levantei e peguei o computador, não porque não estou conseguindo dormir. Mas porque preciso dizer que faltou um lettering final, depois dos créditos, dizendo: "O poema V ENTE dá titulo ao livro de Bê Sant'Anna, de 2012, produzid

Quantas vidas tem o Batman?

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Estou cansado de chorar. E não estou nem aí em confessar minha humanidade. Ouvir a chamada do jornal, que o ator Christian Bale visitou as vítimas da tragédia nos Estados Unidos me chacoalhou por dentro. Eu, que sempre fui o Batman, me encontro menino, sozinho, no cinema, no limite, na fronteira entre a realidade e o sonho, entregue na cena absurda, quando vejo um vilão da vida real quebrar todo o pacto sensível para matar. Para me matar. Ele não matou só quem morreu. Ele mata o sonho de todos que ali estavam. Ele mata o sonho de todas as famílias dos que ali estavam. Ele mata o sonho de quem ainda acredita no sonho. Se Batman pudesse, iria atras dele. Mas ele está do outro lado da fronteira. Na ordem do sonho. E Batman, então, morre. Foi morto por James Eames Holmes, junto com todos os Superamigos. Vejo-o ajoelhado na tela, inseguro, atingido, chorando também, em uma tristeza profunda, não por estar morrendo alvejado por balas da vida real, mas por não poder transpor o limite

Bruce Parry, Luciano Hulk, Didi Mocó e eu

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2 dias de cama, febre baixa, garganta e humor inflamados. Mais televisão, um pouco de impaciência pra ler. Nessa hora agradeço a assinatura da NET HD. Mesmo que o custo benefício seja questionável, já que praticamente não vejo televisão, só Bom Dia Brasil, pra falar a verdade. E em uma situação como essa, vejo a BBC HD. Nela, Bruce Parry. Quando comecei a ver uma série de documentários da BBC HD, seu nome em português era A Amazônia de Bruce Parry. Não entendi o porquê, já que o título em inglês era Amazon with Bruce Parry. Imagino que um de bom senso deve ter levantado essa lebre na emissora, ou mandado algum email, algo do gênero, até que alguém lá dentro se tocou e mudou pra A Amazônia com Bruce Parry. O fato é que, da mesma maneira que fico feliz por um lado como a globalização diminui as fronteiras, fico triste em saber que precisamos que um inglês de uma tv inglesa venha até aqui (como se a Amazônia fosse aqui) pra fazer um documentário "mais completo" (

A nova mulher de verdade

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Ela está definitivamente longe de ser a que era mulher de verdade. Mulher de verdade agora tem outra definição. A da propaganda da Doriana que me desculpe, mas estou com uma preguiça monumental dela. Tem uma conhecida minha que é lindíssima. E que resolveu deixar de se cuidar, colocando em primeiro lugar o cuidado com o marido e com os filhos. Lindíssima. Engordou bem uns 8 a 10kg, diminuiu pela metade, pelo menos, a "ida ao cabeleireiro" - lê-se cuidados básicos da mulher contemporânea -. Ok, quando dá uma produzida, vai às festas de aniversário mais arrumada e vê-se que ali dorme uma princesa. Mas, pasme!, sua torre é ela mesma. Fico pensando o quanto seria admirada pelo marido e pelos filhos se cuidasse em primeiro lugar de si. Sim, porque, ao contrário do que esse tipo de princesa aprisionada possa pensar, nós homens-infantis-bestas-eternos , nos fascinamos pelas musas que nos circundam. E delas somos escravos. Essa conhecida minha talvez tenha caído no seguinte c

Mu

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Acho que já ouvi minha filha imitando a vaquinha umas 237 vezes de domingo até agora. É sério. Não sei o que é isso. Não sei se é vontade de tê-la em meus braços, sentir seu peso, de conversar com ela. Sei que é algo assim, muito forte e melancólico, intrigante. Dentinhos separados, cara de moleca, cabeluda que só, minha filha é uma espécie de alçapão preparado. Vôo pra ela, sem me preocupar com a gaiola da vida. A vida do papai é só um vagalume no escuro, filha. Você é a Natureza. E nosso amor é todo o Universo. A minha vida é um tiquinhozinho perto dessa Natureza, é um cisquinho ainda menor diante desse Universo. Ainda assim, quero brilhar no breu. Quero que me veja passando. Quero voar silente e brilhante pra você me perseguir com os olhos, incitar seu sorriso e, quem sabe, esperar que me aponte surpresa, arqueando suas lindas sobrancelhas. Quero iluminar seu caminho. Um pouquinho. Quero a áura esverdeada da esperança que enfeita com leveza o negrume do mundo. Escuta

Onde estará o livro que procuro?

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Sentado no sofá da sala, em uma visita para o almoço, Vander Lee toca os dois primeiros acordes da música Eu e Ela, de sua autoria. Eu paro de procurar o livro O Caminho do Sábio e me viro, já começando a chover. Ele é músico e entende que os dois acordes foram suficientes pra que eu soubesse do que se tratava. Me olhando emocionado, comenta que se lembra perfeitamente de como fez esta música, escolhendo outros acordes que nos leve pra longe dela. Ele entendeu quando eu disse que desde 11 de novembro não consigo ouvi-la sem que a chuva venha molhar a terra, o sol se esconda e o sal aflore. Há mar além do tempo dos homens, meu amigo. Somos assim. Humanos. De vez em quando nos encontramos para tentar saber um do outro, pra falar das pontes que atravessamos nos rios baldos da vida, das pontes que nos tornamos quando atraveRssam palavras, sonhos, músicas, sentimentos, pessoas. Pessoas vão e vêm, como as ondas. Mas há mar, além, muito além de tudo. Fiquei uns três anos sem conseg

A Trindade do Amor

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Quatro de junho de dois mil e doze, hora da lua cheia. Beatriz olha para o MacBook ligado ao Skype, aponta num sorriso e diz, reconhecendo: – Papai! ... Seus dentinhos aparecem na palavra papai. A palavra papai termina num sorriso. A palavra papai sou eu, sou eu quem aparece no MacBook, sou eu quem desaparece no MacBook. Sou eu a 2.200km de distância dentro, nada mais perto, tudo mais pele, nada mais suor, saliva e lágrima. Água. Nosso líquido oceano particular. Há mar, Beatriz. Senti a mesma coisa duas vezes. No momento em que cheguei e avistei a Catedral em Santiago de Compostela. No momento em que vi Beatriz pela primeira vez, no ultra-som. Um pontinho pulsante, um coração batendo, uma palavra, nada mais do que isso. Apontei para a tela do computador de dentro de mim no consultório num sorriso e disse, reconhecendo: – Filha! Foi como assim. De lados opostos mesmos nos apontamos. O tempo e seu hiato misterioso, ligado por um fio invisível de prata, uniu meu coraç

Sou só um Mehari que sonha

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Medei de presente de anivarsóvia uma leitura. (de um livro que eu já tinha) Aqui abro um parênteses: ( Fico triste como as grandes corporações vêm pra avacalhar certas coisas. Sábado, fui comprar um livro em uma "grande" rede e disse ao "livreiro": – Quero dar ao meu primo de presente o livro "Zen e a arte da manutenção de motocicletas" . Ele foi procurar se tinha o livro e digitou: "Zem"... preciso dizer mais alguma coisa? É por isso que gosto de comprar livros com a Simone na Ouvidor, ou com o Sr Van Damme, na livraria de mesmo nome (Van Damme, digo). Assim como quase não temos mais livreiros, na drogaria Araujo só temos um jalequinho branco querendo me dar um cartão com o código de barras pra ele ganhar comissão. E eu fico puto da Araujo abrir uma loja a 500 metros da outra, só pra se instalar na frente de uma farmacinha de bairro e matar o cara que está lá há 30 anos. Mas isso é outra história, meu parênteses tá grande demais. ) Eu j