Tango




Tango.
Eu Tango.
Tango escolha, marcação, ando marcado pelas mazelas do tempo.
Só sentimento, só pulsação.
Na milonga da vida, o círculo do nosso salão ainda chega ao lugar onde nos encontramos.
Sapatos de couro, o couro da pele, seu salto nos deixando pra sempre no piso da pista.
Delicadamente desenho com o bico do pé: espora que fere gillette o terreirão de minh'alma.
Bandoneón que chora.
Que grita silêncio com a mão no vidro do ser.
Encarcerado, pra sempre, no tango sangrento da gente.
O violino me empurra, suplica, aperto seu coração contra o meu. Síncope e ar rarefeito.
Peitos, desejos de arder.
Voltamos pra avançar, têmporas coladas, pessoas imantadas que sabem amar.
O Tango é escolha.
Anda comigo, anda.
O repique rascante da música para o tempo, mão aberta, dedos prensados contra a seda penugem delicada das costas.
Faço um oito com você. Eternamente num passo, o laço dos dois que anuncia, o nosso vazio, o tom do querer. O Tango é um jeito de ser.
Eu Tango.
Eu marco por onde passo. Eu laço. Eu terno.
Eu rasgo do seu vestido.
Outono inverno de mim, que escuto o vermelho do medo.
É cedo
pra parar de dançar.



imagem - pintura de Kathryn Renee: http://katrenee.com/gallery/painting/tango

Comentários

Bê Sant Anna disse…
Faço tango as quintas, com uma professora maravilhosa (e muito paciente) que se chama Kina.
Há uma filosofia própria no tango. Um misto de romantismo e drama que fazem o sangue correr. A beleza dos movimentos associados à música de personalidade ímpar fazem do tango uma arte dentro da arte, acredito.
O acordeón e o bandoneón não precisam do vento, do sopro à toa.
Ouça e veja tango. E se puder, dance. Acho que é um bom jeito de se sentir mais humano.
Bê Sant Anna disse…
Não é isso, Cristiana Rezende Kina?

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