O telhado do engano.



Quando eu me separei, o meu maior medo era de me apaixonar novamente. Hoje, o meu maior medo é a perspectiva de que isso nunca mais aconteça...

Ela me disse em uma conversa.

Hum... (pensei)

Acho que sei o que estava sentindo. É uma espécie de saudade...

Você já teve saudade do que não viveu?

Você já se arrependeu do que não fez?

Quando a noite cai, as confissões sobem à superfície para respirar. O Tempo nos questiona. Afinal, já temos tempo pra responder... O sono de mim invade e resolvo dormir sem escrever o que queria. Da janela da parede, uma gravura de Juraci Dórea, artista baiano de elegância ímpar, me olha. Me fita. Me fala. As agruras do mundo não cabem dentro do ser Tão. Ou cabem? Por falar em apaixonado, me lembro do Gikovate, definindo paixão... diz ele: paixão = amor + medo.

Sabe, nunca fui tão apaixonado quanto pelo meu amor que escolheu ir. Ela não foi pra Pasárgada, não é amiga do rei. Resolveu ir, simplesmente. Não acreditou que eu pudesse, que eu fosse, que eu estivesse.

Eu sei de mim. À noite, os gatos pardos ganham o crédito por saírem nos telhados. Talvez o cão devesse ter algum mérito por deitar no sereno, e cuidar da casa, e ser vigilante, e abanar o rabo, e estar sempre de bom humor.

O cão não lambe só a ferida do dono.

Comentários

Carol disse…
Tive a grata oportunidade de achar seu blog. Parabéns pelos excelentes textos!!

Carol
Bê Sant Anna disse…
Sou grato, Carol!
Volte sempre! :)

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