Gilberto Gil, Caetano Veloso e minha filha.



São duas da manhã, voltei da chopperia Albano's depois de ir ao show do Gilberto Gil.

Gil está bem, estive com ele, tive a oportunidade de encontrá-lo novamente depois de muito tempo e entreguei pessoalmente o meu livroCD 8, dedicado a ele, que lancei em 8/8/2008. Ele fez questão de me ouvir atentamente, enquanto explicava sobre o que se tratava este presente e não quis que entregasse a outra pessoa, disse que ele mesmo queria ficar com ele.

Fiquei muito emocionado. A bela moça que estava ao meu lado me perguntou: quer que eu faça uma foto?
– Não, grato.
Eu disse a ela.

Foi como quando eu o entrevistei por mais de 40 minutos para o meu trabalho de conclusão de curso. Não quis tirar uma foto com ele. Foi também como quando eu me encontrei com ele, na ocasião do show Tropicália DUO, há 17 anos, quando ele me apresentou o Caetano Veloso.

Sim, eu tenho isso no meu currículo. Gilberto Gil me apresentou o Caetano Veloso. Um dia tenho que escrever sobre isso.

Em nenhuma dessas oportunidades eu fiz foto com o Gil. Não queria que fosse essa onda de tiete. Não é a minha com ele, é uma coisa de outra ordem. A única foto que tenho com Gil, foi tirada na casa da Ângela Gutierrez. Estamos na foto eu, ele e meu pai, em um jantar em homenagem a ele, depois do lançamento do livro Gil Luminoso, de Bené Fonteles. Um livro muito muito lindo... Nesse dia, fizemos essa foto pela ocasião.

Indo para o show, comentei que achei que ia morrer hoje... Passou da meia noite e não morri.
Prova disso que sou eu mesmo que estou escrevendo isso aqui.

No show, talvez o ponto máximo, pelo menos filosoficamente falando, foi quando Gil canta uma música que fala justamente da morte. Teve gente que riu. Acho que quem não entendeu o que estava rolando ali, pra falar a verdade. Foi muita ingenuidade. Muita mesmo. Tirando o idiota completo que estava ao meu lado brincando de tirar foto com o celular e me atrapalhando de curtir o show, que ficou putinho porque eu pedi educadamente pra que ele desligasse o aparelho, pois estava me incomodando, acho que as pessoas que riram eram as que estavam mais sem sintonia com o que rolou ontem (já é ontem) no Palácio das Artes...

Depois do show, comento que não quero morrer até o final da semana que vem. Tenho um evento em Brasília que não quero perder, e que tem muito a ver com o Gil. Vamos fazer um encontro pra tocar e cantar, e Gil vai estar presente - pelo menos em espírito, através de suas músicas lindíssimas. ESTRELA é uma delas, que está no repertório meu e do meu irmão que mora em Brasília. Penso um pouco mais e descubro que não quero morrer agora. Quero ter a oportunidade de cantar pra minha filha algumas músicas do Gil. Quero ter a oportunidade de vê-la cantando uma música do Gil, igual fez o pai dela: eu, com três anos de idade, cantava REFAZENDA, todinha.

Não sei quando vou morrer.

Sei que não foi hoje. Sei que não gostaria que fosse esta semana. Sei que queria que fosse pelo menos depois de eu cantar um pouco de Gil pra minha filha e ter a graça de ouvi-la cantando pra mim.

Gil, que dividiu o palco com o filho Ben, que está tocando um violão de gente grande, também não sabe quando vai morrer. Mas não importa. Ele tem muita música eterna, isso, pelo menos, eu sei.

Sou grato pela música em minha vida, pela sensibilidade do meu pai, que me aplicou Gilberto Gil, e mais grato a Deus, por promover em mim a vontade de viver pra ver minha filha cantando Gil.


Comentários

Unknown disse…
Oi Bernardo, Vc não me conhece mas também estive no show maravilhoso do Gil. Posso dizer que por alguns momentos "nos encontramos", pois senti o que você sentiu. Que honra você conhecê-lo! Parabéns pelo texto! Se tiver oportunidade de falar com ele de novo, diga-lhe que ele deixou em BH safras e safras de sonhos... Bjs!
Bê Sant Anna disse…
E "quilos e quilos de amor", Anna Amzalag. Grato por ler e comentar. Gil tem essas coisas. É o fidalgo da música brasileira. O Rubem Alves das canções populares. Me impressiona como trata de temas universais e particulares de um modo acessível e ao mesmo tempo contundente, profundo. Acho que pela lente do amor podemos vê-lo e ouvi-lo melhor... do jeito que merece seu lindo trabalho. Realmente me impressionou muito, foi um show para iniciados.
Linda a foto que escolheu para seu nome. Vamos caminhando, encontrando e ouvindo Gil por aí! Abraço Anna!
Adorei e partilhei quase linha a linha o seu comentário.
Desde que vi o Gil em Portugal (no Crato) em 2004, passou logo a ser uma das minhas muito poucas referências.
Vi-o mais algumas vezes em Portugal e em 2011 vi-o na China, em Macau.
Excelente Gil. Também aqui em Macau, algum público menos antenado riu quando ele disse "mijar" no "Não tenho medo da morte" mas foi claramente uma excepção pois a sua palavra passou e deixou, uma vez mais, sementes luminosas...
Bê Sant Anna disse…
JMV, grato por ler e comentar. Sigamos ouvindo ou vindo com Gil, caminhando ao lado dele por essa estrada poética. Um abraço JMV. Seu blog é bem interessante!

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