Eric Clapton, NelsoM, Nena, Vanderlei Timóteo e o Diabo.



"E, por um momento, percebeu que não havia mais nada o que escrever."

Era o que estava escrito quando cheguei aqui. Escrevi ontem à noite, antes de morrer.
Hoje cedo, como não tinha morrido muito, acordei no multishow HD e mandei uma mensagem pro NelsoM.

Ele, que me ensina sobre a vida e sobre a música que meu pai não me ensinou - o que é a mesma coisa pretty much, me disse: essa é a melhor coisa que Eric Clapton já fez. Não sai daí enquanto não ouvir tudo.  Ele vai começar a dar seus depoimentos, daí você vai entender o que é comprometimento. Com o NelsoM sou obediente.

Daí Nena me ligou.

Fico pensando que meu pai e minha mãe me ligaram assim cedo (pais postiços, esses - ou meu irmão mais velho e minha irmã mais velha, whatever) porque Alguém mandou.

Enquanto Eric Clapton diz coisas incríveis a respeito de Robert Johnson, suas escolhas, seu sentimento e uma forma específica de tocar e cantar em determinada gravação - que tem um sentido muito mais potente pra quem toca, canta, sente música - eu leio Vanderlei Timóteo (outro pai postiço) e faço minhas conexões... Curiosamente, eu morri ontem e diz Vanderlei que outro pianista (ops, ato falho) morreu essa semana. Outro com o nome Bernardo.

http://vanderleitimoteo.wordpress.com/2012/05/12/a-vida-de-volta/

Pra quem nunca soube de fato o que significa ter o nome Bernardo, pra quem sempre achou que seu nome era Bê porque depende da aprovação carinhosa dos outros pra ser (ou estar, não importa), pra quem escuta Eric Clapton pelo ouvido de NelsoM, pra quem demorou pra dar notícias pra Nena, que se preocupa, pra quem acha que essa história de Robert Johnson ter feito um pacto com o Diabo significa tão somente a escolha por tocar o barco no há mar, ao invés de ficar presinho-bonitinho no cais, isso é tudo muito doido e muito a-mesma-coisa-ao-mesmo-tempo-agora.

Diz o maluco do Eric Clapton (que de maluco não tem nada), sobre a experiência de estar só ele e a guitarra ali (ou sobre a vida - pretty much a mesma coisa):

É como estar num acidente de carro. (...) Estar em harmonia com o tempo.


Daí o entrevistador pergunta: – Deve ser bom não precisar mais de fazer o que faz pra conseguir grana...; Porque continua fazendo?

E o cara:
Pela experiência de fazer música


(Foi como dizer: vivo pela vida, vivo pelo ato de viver, vivo porque agora...)

– (...) a felicidade de fazer música é a minha missão.


Daí, eu coloco Eric Clapton, Nena, NelsoM, Vanderlei, Bernardo, Diabo, Bê, tudo na mesma panela (de barro, do jequitinhonha), com cebola, azeite, alho, sal e vou pingando água devagar pra me perguntar...:

– Será que é música?

E tentando responder, penso nas desculpas, penso no perdão, penso na distância da "vida de volta", como diz Vanderlei, penso que estou demorando pra ir correr, penso no recado do Eric Clapton, penso no comprometimento, na missão...

E descubro que tenho que finalmente decidir o que sei fazer melhor (sei?).

Devo confessar, Vanderlei, que no meu caso, não consegui. "Desculpa, perdão, abraço e confissão" só deram cores mais vivas e ricas ao sofrimento. Talvez o blues seja pretty much isso.

Vai ver que minha missão não é escrever, Eric Clapton. É tocar blues.




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