A pureza e a fome do perdão.




Sob o céu do cerrado, onde o horizonte é mais verdadeiro, me situo. Sítio.

Tem um quê de meu aqui, tem algo que me diz da minha verdade, das minhas escolhas, dos meus desejos, estando eles pertolonge ou longeperto.

Na casa que é muito minha, por paixão completa, por pai-chão completo, respiro.

Clara está com fome.

Com 5 meses e meio, encontra um jeito de se comunicar não só com a mãe, desde cedo me conhece. Sou irmão do pai dela, sou irmão da mãe dela, sou tio mais velho, gasto de amor e de saudades.
Clara me fala da fonte da juventude. Clara me fala da fome da juventude.

Clara é generosa, sabe que Beatriz não está nos meus braços agora, que as notícias que chegam são sempre suadas, molhadas das tantas correntes torrentes que passam por nós, e decide doar-se de amor, pra mim, pelo tempo do sempreagora, enquanto estiver em meus braços.

A fome da vida pede que esse tio dê mamadeira pra ela.

Depois da mamadeira, dançamos suavemente pela sala, embalamos um ao outro, enquanto ouvimos nossos corações que batem.

Batem tanto que machucam.

O pai da Clara sabe de tudo. Seus pais sabem de tudo.

Passam e fazem sinal sem fazer sinal: – Que saudades da Beatriz! – eles também sentem. Nunca estiveram com ela, mas sabem...

O pai da Clara entra pro dentro da casa e sai de dentro dele trazendo um violão. Com ele, vai embalar a filha, o tio, o irmão, o pai, o amor.

Inexplicavelmente, ele começa a tocar a única música que parece ser possível, que me faz chorar em silêncio e derramar esperança no ombrinho da Clara, enquanto continuamos embalados um pelo outro...

Hino, tapa, chacoalhada.

Despertador.

Fonte de inspiração, suspiro.

Essa música é atadura pra coração que é espera, é ponte pra quem, da outra margem, molha os pés enquanto aguarda.

Juntos, cantamos em dueto enquanto somos mais humanos, mais pais, mais irmãos um do outro:

Quem me chamou?
Quem vai querer voltar pro ninho?
Redescobrir seu lugar...
Pra retornar e enfrentar o dia-a-dia
Reaprender a sonhar...
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
continua sempre que você responde "sim"
A sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz "não"...
Você verá que a emoção começa agora
agora é brincar de viver...
Não esquecer: ninguém é o centro do Universo
Assim é maior o prazer...

Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
continua sempre que você responde "sim"
A sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz "não"...
E eu desejo amar a todos que eu cruzar pelo meu Caminho
Como eu sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo...
Vem!
Agora é brincar de viver...

Talvez eu cante hoje à noite, antes de dormir, mesmo sozinho, outra música de Guilherme Arantes: "Amanhã". 

Tal vez.

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