O silêncio e o dia mundial da voz




Dia 16 de abril é o dia mundial da voz.

Herder, filósofo que tem uma produção belíssima sobre a origem da linguagem defende a audição como sentido central aos demais, seu elemento de ligação. Na verdade, cala em mim toda a admiração por estes profissionais e amantes do que nos torna, sem dívida, mais humanos. Das impressões primitivas - de que fala Herder - às elaborações de todo vulto, da fala e o silêncio, do canto e o hiato somam-se os princípios do ser, muito humano, em busca de (seus) significados.

Hoje é um dia que se pretende especial.

Para mim, sem dúvida. Não recebi parabéns, não recebi um email, não me ligaram pra me dar um beijo pelo dia de hoje. Mas hoje pode ser considerado um dia bem meu. Ainda mais neste ano, um ano especial nesta área: há 21 anos, eu fazia minha primeira locução publicitária na REC estúdios de gravação, com o talentoso Alexandre Martins, profissional competente que veio, ao longo de 21 anos, se tornar um amigo, por vezes confidente, nessa seara profissional, nem sempre fértil, nem sempre vasta, mas sempre regada e cultivada. Há 25 anos, eu fazia minha primeira locução artística, em uma peça premiada: "Na Pontinha do Sonho".

Não foi exatamente fácil que um roteiro chegasse a um estúdio com a indicação do meu nome. Demorou 8 anos pra que isso acontecesse. Hoje, ainda sou obrigado a ouvir  desavisados ou ignorantes que fazem o comentário:

 –Você só demorou 1 minuto pra gravar isso... gravou de primeira ou de segunda! Isso sim é um dinheiro fácil...

A essas pessoas, minha resposta é sempre a mesma:

– Sinto, mas você está completamente enganado. Não demorei só um minuto. Demorei 25 anos.

Poderia dizer que fiz sete anos de aula de canto, uns 4 anos de aula de interpretação, 8 meses de tratamento com fonoaudióloga por causa de um calo, que fiz um curso de publicidade, uma pós em gestão cultural, um mestrado ainda sem defesa em interações midiáticas, curso de circo... e por aí vai... mas a vida é assim: as pessoas vêem as pingas que tomamos, mas não vêem os tombos que levamos. Ainda hoje, concorro com quem cobra metade do que eu cobro, com quem não tem um terço da minha formação, esbarro com a falta de profissionalismo do meio, e com o dia-a-dia de quem faz (também) da voz seu ganha pão.

Sempre, fui mais adepto ao silêncio. Em 25 anos, aprendi o valor do tempo. Aprendi a importância de ouvir. E uma coisa de que ouso me orgulhar: acredito que sei do valor da palavra.

Aos meus amigos, aos meus pares, aos entusiastas da palavra, aos amantes da voz, do canto, do encanto, o meu abraço, fraterno, respeitoso, carinhoso. É tudo que minha voz me permite dizer no dia de hoje.

Visite o site http://www.vozesdeminas.com.br/ e conheça um pouco da associação que ajudei a fundar e de que fui diretor do conselho de ética por algumas gestões. Com orgulho.

http://www.youtube.com/watch?v=EL0Z8_CelSo


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