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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Balanço das horas

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Mais um filme para ser avacalhado por mim em um post. Ou melhor, mais um pra não ler se não tiver visto o filme "tão forte e tão perto". Sou pai. Esse já seria um motivo suficientemente bom pra que eu me tocasse com o filme, independentemente da tradução do título ser, pra variar, uma agressão. Aliás, eu gostaria muito de saber quem são os gênios que traduzem os nomes dos filmes pro Brasil. Gostaria de prestar a minha homenagem particular a eles. Entre quatro paredes, se for possível. Mas vamos voltar ao mote do post. Sou pai e estou vivo. Sou pai, estou vivo, tive avô, tenho traumas, já tive dificuldade de relacionamento com meu pai, estou a 2300km de distância da minha filhinha de apenas um aninho de idade, não faço a mínima ideia de quando me será possível reencontrá-la... esses já seriam motivos suficientemente bons pra que eu fosse tocado com o filme. Mas vai além disso. Na cena do balanço, uma revelação. Pra mim. Não foi fácil ficar (literalmente) enta

30 EMPADAS

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Acordou com um desejo incrível de comer empadas. Viu o sol, decidiu aceitar seu brilho. Mesmo pela sombra, caminhou até a praia, onde o mar a aguardava. Inspirou. E começou a observar a vida: a menina gostosa que passava de patins e rabo de cavalo, o desdentado sorridente que varria a areia do calçadão, o casal americano de meia até a canela e tensão nos ombros, a menininha que queimava o pé na areia, o vendedor de mate, o grupinho de amigas excitadas, o solteiro, simples e solzinho que passava, o solteiro simples e sozinho que não passava, o vigia, o seu guarda, o au-au. No posto de sempre, no barulho de sempre, entre as bicicletas de sempre, perto das aposentadas de sempre, decidiu não sair dali até que o dia acabasse. E que o tempo a fizesse companhia, enquanto ardia o mormaço das horas e o menino fosse e voltasse vinte vezes na borda das ondas. De vez em quando, abria a vasilha velha de sorvete e tirava uma empada. Todas douradas. Todas de frango. Todas com recheio molhado,

Você faz Amor em 15 minutos?

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Escreveria um livro sobre este carnaval. Mas vou escrever só um post. A Árvore do Amor, de Zhang Yimou, filme que vi sozinho em Brasília, lugar para onde fugi, foi um presente mágico desses dias. Fiquei com um pouco de pena do casal, que deveria ter aproximadamente 21 anos, cada, que saiu 15 minutos depois do filme começar. Fiquei com pena do mundo onde esse casal vive, mundo onde as relações são todas de consumo. Até as interpessoais. É difícil ver um filme como A Árvore do Amor quando as referências todas são balizadas pelo mundo do consumo. Há quatro meses sozinho, penso o quão difícil é estabelecer uma relação hoje em dia, em que não sejamos perpassados em algum nível pela tutela do consumismo. A roupa, o presente, a viagem, a pessoa, o status, o programa, consome-se tudo. E tem que ser rápido. O mundo do consumo não pode esperar. Aliás, não se pode esperar nem 15 minutos... onde já se viu? Em 15 minutos de filme um não consumiu o outro? Que saco... Deve ser chato mesmo.

Sobre a finitude das coisas

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O bom do meu segundo livro ainda não ter ido pra gráfica é que posso trocar a única dedicatória.

Sol ela.

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Céus do Planalto Central.  Voando, vejo o pôr-do-sol.  A terra negra, o céu azul acima das nuvens, o cinza das nuvens, o dorso alaranjado do mundo. O finíssimo contorno das nuvens brilhando luz, delineando formas. Há sombra, há luz, há clarão. O Sol escondido aparece em tudo que toca. Maravilhei-me de tudo. Penso vastidão do mundo, penso planalto central, penso visão além do alcance, penso vasto, profundo, eternamente momentâneo. Penso no amor presente nas coisas todas.  Essa luz é amor, penso. Essa sombra é amor. Penso. A janelinha do avião é janela pra minha alma, que vasteia sem medida quando nada o rio abaixo, a correnteza me levando.  Quão extenso é o mundo, quão misturado, quanta terra, quanto ar. Quanta imensidão de nada onde o tudo insiste em incomodar. Quanta beleza há? Um outro rio é outro, é mais bonito, é mais laranja e prateado agora, daqui, do céu da tarde que vai pra Brasília anoitecer.  Penso níssimo.  Como tudo pode ser tão

O único texto único.

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Da mãe, estica os bracinhos. Abre e fecha a mãozinha, querendo pegar. Vou com meu pai, ela diz. Onda em meu peito em praia, Beatriz me cala, me calo, me colo. Soul solo. Ela não sabe do medo e da vergonha, das escolhas profanas, da pequenez dos homens. Não sabe das diferenças tantas, ela sabe de mim. Me tem e me vem, me voa e sou tudo aquilo que ela pode querer quando estica os bracinhos agora: Sou sem demora. Há mar, Beatriz. Independente de tudo. Preceitos refeitos, tenho a seta amarela do amor a apontar Santiago, que insiste em pedir: - Anda! Ando. Faço índiozinho batendo a mão na boca, estico a língua pra ela pegar, tiro e coloco os meus óculos vinte vezes vinte vezes, ela escolhe o símbolo do amor infinito que trago em meu peito pra brincar. Ela é sábia e sabe da sebe de Deus. Entrelaça caminhos, entrelaça destinos, entrelaça o há mar de ser menino. Sou sino. Pranava Om. Morte e vida, Severina, sou sina, sou só estar sem demora. No tempo do ser. Kairoz é noz que vigia,

Haikai da superação e aprendizado

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O degrau que desafilha é despenhadeiro pro pai.

ENCONTRO

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Folha em branco. Do avião se ouve o vento. Recife continua distante, e meu coração perto longe atravessa a ponte da expectativa. Vou com ele. Um anjo me segue, me guia, me leva, me toca. São muitos desejos de bem, muitas mensagens de carinho, muita torcida pra que tudo dê tudo certo. Tudo sempre agora. Tenho asas no coração e na mente, voo pra perto pra sentir e ver que está tudo bem. Tudo bem comigo, tudo bem com ela, o Eu Caminho mantra do Caminho de Santiago a me guiar cada passo. Guias. Os anjos do caminho aparecem e vão mostrando a seta amarela que inspira e sacode a gente. Há pouca bagagem. Há pouco a levar, há pouco a buscar. Levo somente uma pedra de coração no meu bolso, que me achou no monte do perdão no Caminho de Santiago. Lá. Onde não sei. Não há mais o onde, não há mais o tempo, não há mais nada. No fragmento do tempo, o desejo do ser. Est ando . Não há o que levar. Não há o que esperar. Há o amor em mim e o amor da minha filha que vai me ter um

No Castelo da Suiça se ouve Maracatu.

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Cem anos. Aniversário da minha avó Lygia. Unhas vermelhas, brinco dourado, alegria incontestável. Meio espanhola (no espírito, porque ela na verdade é  Neuschwander -  Suiça), gosta de festa. Foi de quem puxei. Vovó traz na alegria o jeito de ver o mundo. Mesmo depois de ter partido, me ensina. Sua filha, minha tia Margarida, viveu na França por muitos anos, quando não havia internet, quando o telefone era difícil, quando a França não era dentro do Skype. Era em outro planeta. Ela sabiamente, sabia que Longe é um lugar que não existe , como Richard Bach. E sabia que o importante é que sua filha estava dentro dela, independentemente da distância, e com saúde, e bem, e feliz. Mais uma lição que me dá, mesmo das estrelas, todo santo dia... Minha avó gosta de gatos. Curioso é pensar que ela partiu no dia 25 de fevereiro, curioso é pensar que foi no final da tarde, depois de passar o dia com a gente, quando foi levada por meu avô, Hélio, que já tinha partido há muito... Eu est

Do Canto, da gente.

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Sem ela e sem ela. Sem os sonhos reais. Somente os re-ais que dóem. De novo, curtidos sem curtição. Pele seca, sem colágeno, rugas que se acumulam em dó. Ainda riso, sempre precisa, volta a acreditar. Mas dói e incomoda. Sabe-se glosa sem mote, trote, sabe-se com pouco tônus, compota de doce sem açúcar. Vontade do gosto. Não consegue explicar os desejos, só ensejos do bem, que conta. O querer toma conta do grito. Aflito, quer um abraço. E mudo, calado, o fado de ais. As belas dores do mundo inspiram mais quando são só cantos. *na foto, a bela Mafalda Arnauth.  http://www.youtube.com/watch?v=OOFe4Krv048 Vale conhecer:  http://www.youtube.com/watch?v=DNllEchNyL4&feature=related

Só nessas horas.

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Quando escovo os dentes, quando não uso escova, quando tomo banho, quando demoro um pouco, quando cabelo no box, quando água fervendo na pele, quando cheiro de amêndoas, quando toalha vencida, quando toalha novinha, quando passo perfume, quando sinto perfume, quando faço café, quando saio correndo, quando bandeja nova, quando suco de laranja, quando chá, quando ades, quando um pouco de zona, quando o dever me chama, quando peixe cru, quando sakê, quando pé, quando falta de pêlo, quando deitado, em pé, quando falta de zelo, quando zeloso com idoso, quando estou em família, quando estou nem aí, quando nunca estive, quando bebo cerveja, quando converso com alguém, quando sou só escuta, quando desço uma rua, quando entrando na garagem, quando guardo meu carro, quando arrumo a casa, quando penso uma casa, quando sei de mim, quando me esqueço, quando só foto, quando só lembrança, quando vinho, quando dança, quando vou levantar, quando acabo de de

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Atropelado

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Faltam 2 dias para um casamento cancelado. 2 dias para um quase amor eterno. 2 dias para um sonho que acordou no meio. Faltam 3 dias para o ex-primeiro dia do resto de suas vidas.

Sou biruta, Michelle.

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Michelle Loreto, quer se casar comigo? Você não é a moça do tempo? O tempo brinca com a gente, Michelle. Não passa. Está sempre aqui. O tempo sempre. O clima muda. Mudamos pra não envelhecer. A chuva nos molha, o sol esquenta e o vento faz cócegas na expectativa do moço, que vê a moça atravessar a rua de saia. Você me dá bom dia enquanto penso no hoje, apesar do clima, independentemente dele. Biruta. Você se dá bem com o tempo, Michelle? Aos 32 anos, ele se mostrou carinhoso contigo. Nem o sol de Recife, nem o alótropo triatômico de São Paulo deram conta da sua beleza. Assim como eu e minha poesia. Acordo de acordo contigo. E escuto o que me espera no clima de hoje. Quero andar à pé, sou amigo da chuva, mas quero a dica da moça do tempo. Talvez me diga que a previsão não é de sol, é de riso, talvez me diga que o frio que envolve o corpo não arrefece a alma, que o agora é o tempo do somente, que a neve no Japão só serve para virar haikai no espírito de Matsuo Bashô. Não há casa