O som que bate à porta


Acabo de ouvir uma bomba.
Não sei se um escapamento, não sei se um fogo de artifício aqui da favela, do lado da minha casa. Não sei. Ouvi uma bomba.
Ouço carros que passam na chuva, ouço uma moto que também passa, gritos das crianças da vizinha. Uma mulher, deve ser transeunte. O som das castanhas do pará de dentro do meu crânio.
Hoje, mais cedo, ouvi meu coração.
Deitado na mesa de tratamento da fisioterapeuta que me coloca no lugar uma vez por mês, ouvi meu coração que batia forte. Ele dizia que eu estou caminhando, mesmo deitado, mesmo longe da Espanha, mesmo parado. Ele dizia da saudade do Caminho, da saudade da descoberta de um amor puro como parecia não haver, da saudade de olhar nos olhos de mim mesmo no reflexo em movimento, no lago em que me banhei por tantas vezes no Caminho.
Talvez todos esperassem uma mudança brusca. Talvez todos esperassem mudança nenhuma.
Eu, a independer da espera, resolvo o passo, passo, atravesso, e me encontro no eucaminho.

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