Ciça e Juliana


Ele parece se chamar Pedro. Ela, Ana.

Calma.

Ciça e Juliana estavam na mesa ao lado. O meu Pedro e a minha Ana, umas duas mesas pra lá.

Ela olhava pra ele como se não coubesse mais naquele corpo. Ela queria participar do dele, porque já não dava mais. Mais não cabia. Ela queria se dar pra ele. Tudo, toda, tuda, tanta, tonta. Seus olhos diziam, gritavam, suplicavam, não havia como negar.

E alheia a eles dois, Ciça.

Coça ela, Pedro. Arranca a roupa dela Pedro. Pede ela em casamento, essa noite, essanoitesempre, porque um olhar desse, nunca mais. NuncAMAis.

Porque você furou essas orelhas parecendo uma índia, Juliana? Vou enfiar o meu dedinho no buraco da sua orelha.

Ciça tem um cabelo anos oitenta. Franja. E me conta que tem que ser assim mesmo, impetuoso, audaz, impulsivo, passional. Seu peircing no meio do nariz não combina com sua fala. Quem ela quis furar com esse peircing? Será que ela queria só combinar com a Juliana?

Diz ela que se a Juliana tirasse a roupa, eu ia entender o tanto que a Juliana era mandona. Não, não é isso que você tá pensando. Eu é que não estou me expressando bem. Primeiro que já farto de entender o tanto que Juliana era mandona.

Deixa eu ver se me explico: a Juliana da mesa da Ciça tava com uma calça jeans meio desbotada, daquelas que tem umas poucas tripinhas brancas na barra da calça. E um allstar cool e um casaco e um cabelo preto, bem preto, com uma franja também, praticamente... uma franja desfiada, mas um cabelão pretovéumanto, que às vezes tapava a orelha e escondia a rebeldia.

Mas o mais interessante eram os olhos (eu ia escrever óculos, mas meu ato falho contou que fiquei impressionado com os olhos da Juliana).

Mas o mais interessante eram os óculos. Quadrados, gigantes, retrô pra caramba, em escala, pareciam de uma menininha bem comportada de colegial...

Que Juliana comportada. Que Juliana agressiva. Quando a Ciça disse isso, quis dizer que por baixo daquela menina, que parecia aquele brigadeiro com forminha branca na ponta da mesa de um aniversário de criança, tinha um monte de tatuagens de caveira...

Ah, sei lá, já tô pensando alto. Nem sei mais o que estou falando. Só sei que independentemente de eu amar e desejar o amor da Ana, o jeito de amar e o olhar incrivelmente sedutor da Anamorada, mesmo que eu não descubra nunca as tatuagens mais escondidas da Juliana, ainda que eu não saiba se a Ciça é mesmo aquela melhor amiga que alguém um dia sonhou ter, mesmo eu não sendo padrinho de casamento do Pedro, ainda assim, eu estava naquele café. E lá, fiz amor com o olhar da Ana, abençoei o Pedro, abracei a Ciça, beijei mil vezes a Juliana, e Encontrei, na minha mesa, minha eterna amiga irmã Nitiama.



imagem em:
http://downloads.open4group.com/wallpapers/chicara-de-cafe-64b87.jpg

Comentários

Anônimo disse…
nao vou comentar. e by the way, não estava pensando nada.
Cris disse…
Honey, eu vou comentar, simplesmente porque este texto eu AMEI!!!!!! (e muito...).
Amei a voz pequena também!!!!
bjs
Anônimo disse…
Cris, você tem toda razão. O texto é mesmo ótimo. Como texto também amei. Presenciei o amor feito com o olhar da Ana, a benção ao Pedro, o abraço na Ciça, os mil beijos em Juliana e o Encontro (com letra maiúscula) com a eterna amiga irmã. Comentaria o entusiasmo e o impulso. Comento a verdade e a entrega no olhar de Ana e Pedro. Casem-se Ana e Pedro!!! Comentaria a vontade de fugir dali e por isso mudar de cena. Que chatura essa coisa de ficar comparando e analisando. Mas a gente nunca sabe o rumo de uma conversa até que ela chegue. Então pra ficar “fred” e pegar leve, melhor escolher uns figurantes. Assim fica engraçado e mantém o humor. Gargalhar é sempre o melhor remédio. Comento o brinde. “Saúde”. Naquele momento brindei o ritual da comemoração. Comemorei uma vida que talvez tenha acontecido. E a paixão vem daí. É uma paixão nova. Nada tem a ver com momentos experimentados. Nada tem a ver com corpos, com pele. E isso é um alívio. Talvez o tanto que somos parecidos nos tenha afastado e nos afaste de novo. Porque continuo acreditando que todo sentimento é recíproco. Desculpa, Cris, se comecei falando com você e acabei desabafando sobre minhas peculiaridades e devaneios. É que ando usando esse espaço como divã. Se me permite o dono do espaço. Experimento, invento. É delicioso ser anônima. Deixa eu ser anônima, Bê Santanna? Mesmo que te contem quem sou. Pode ser tudo mentira. Também adoro um teatro.
Bê Sant Anna disse…
Melhor que The Mentalist ou CSI.
Tomara que o Warner Channel me contrate.
Não virando Criminal Minds...
Bê Sant Anna disse…
É. Até porque sempre preferi Friends.
Ciça disse…
E nas palavras do Bê eu virei um personagem. Mas quando foi mesmo que ele descobriu que o piercing no nariz era pra combinar com a Juliana?
juliana brant disse…
Bê amay! gente virei uma figura de um conto no blog!!!! amaaaaaaaaay!
beijos
Bê Sant Anna disse…
Olha as personagens do post aí, gente! obrigado por aparecerem!
Voltem sempre.
Dia desses a gente combina um outro café no Central Perk, como diz a Renata aí... hehehe
Bê ijos!

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