Duque Honey Glow


Posso começar com um beijo. Ou um sonho. Ou uma noite escura de junho, ou mesmo com um amigo fiel que esconde a mentira, não diz a verdade, se envergonha com o fato de ser assim, ou assado, enfim, posso começar até com a história do Duque, meu collie vermelho marchador.
Junho. Era junho, próximo à metade do mês e o frio não gelava os ossos, não esquentava com a coberta e nem mesmo aproximava as pessoas ou deixava todo mundo mais chique, como minha mãe gostava de dizer.

Todos poderiam vestir marrom, preto, longos vestidos, longas horas, mas simplesmente escolhiam deixar viver, deixar passar, deixar sofrer, deixar, apenas.

É. Melhor eu começar com o Duque, mesmo. Menos dramático.

O Duque era um cachorro muito elegante, aliás.

Quando havia festas em minha casa, saraus, aniversários, jantares, encontros e desencontros, o Duque sempre demonstrou ser o elegante que era. Ele tinha uma história de afinidade com o bairro, com as crianças da rua, com o muro de pedras cinzas que ficava na parte da frente da minha casa, ali, onde o carro descia para estacionar.

Ainda é viva na minha mente a imagem do Duque passando de um lado a outro na rampa da garagem, se coçando, como é viva a imagem de meu pai descendo as escadas da casa e chegando em casa com ele, filhote ainda, com o pêlo bem claro (honey glow), focinho bem preto e fino, elegante como só ele mesmo, me trazendo o meu presente de aniversário.

Não me lembro agora quantos anos eu tinha. Nem me lembro do meu pai ter entrado em casa pela porta do andar de cima uma outra vez, que não essa, quando ele me trouxe o Duque.

Comentários

Chuif!
Qdo fala de um cachorro que já tá no céu dos cachorros, me dá vontade de chorar.
Lindo texto.
Bê Sant Anna disse…
Pois se minha mãe te contar como foi quando ele morreu... eu, pequeno ainda, indo buscar ele morto, na chuva, deitado no jardim da casa da minha avó... ah, deixa pra lá...
ai, deixa mesmo pra lá. Meu coração já apertou...
Re Bevilaqua disse…
Como boa entendedora e criadora de cães digo que o melhor é lembrar das farras, dos momentos inesqueciveis, das 1000 vezes que a gente manda eles pra fora ou pra dentro ou de um lado pro outro e em 1 minuto eles já tão com o rabinho abanando, sem o menor rancor, doidos pra brincar de novo e levar uma coçadas nas orelhas.
O Duque é personagem imortal do bairro, TODAS as crianças sonhavam em tê-lo. Todas! Inclusive...EU!!!
O Duque era referencia do bairro, da rua e da casa onde morava. Objeto de desejo principalmente ao término de mais um capítulo de Lessie. Affffff.... como a gente queria!
Outro dia encontrei com Bê... poxa Bê... sinto que te conheço de algum lugar... de onde será? Fez inglês ali? Estudou acolá? E ai ele: não... mas... vc morava no São Bento? E eu: morava! Ai ele afirmou: Ah! então era por causa do meu cachorro Collie não?
Tchanan! Charada resolvida.
Bê... o dono da Lessie!
Ai... o saudosismo tomou conta de mim... revi minha infância, minhas aulas de artes que passava em frente do (agora sei o nome) Duque.
Bê, duque que é duque, morre Lord e não cão!
Mas que to esperando meu poema,,, ah eu tô!
Bjs, Re Bevilaqua.
Solange Maia disse…
Bê,

Belo texto, pude até ver o Duque sorrindo (pq cachorros sorriem sim), brincando com vocês...
Adorei as outras postagens também, li as 4 útimas. Cantinho gostoso de se vir.
Volto sempre.
Virei fã.
Parabéns !

Beijo,

Solange Maia

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