Três pontinhos


Posso passar horas aqui escrevendo.
Posso passar dias. 
Mas não quero. 
Quero simplesmente falar o que ouço. Talvez não haja nada legitimamente novo ou original a ser dito, que precise ser garimpado dos recônditos de minha alma, de meu verso, de meu verbo. Novamente vem aquela passagem bíblica... "e o verbo se fez homem e habitou entre nós" (JOÃO 1:14). Acho sinceramente isso extremamente bonito. Não quero convencer ninguém disso, ou fazer apologia à poesia bíblica ou à poesia de fé, mas é preciso ser dito. 
Talvez porque já ouvi... Ou isso seria original?
Quis muito te encontrar, pra dizer de meus medos, agonias, fantasias, mas me encontrei. E finalmente disperso em pensamentos que, acho eu, me farão prolixo demais pra um encontro, outro encontro, novo encontro, seja ele de que natureza for...
Detesto colocar três pontinhos em textos. Fico pensando que esse é um artifício manjado, utilizado pelos fracos, pra entregar a outros a responsabilidade pela construção da história, da narrativa, do fato. Deixar a cargo de outrem "a mão que balança o berço", o click da partida, o apertar de um botão. 
Por que deixar que outro complete aquilo que está indefinido em sua idéia? 
Por receio? 
Só neste texto, que comecei falando de uma outra coisa diferente (e de certa forma, complementar), eu coloquei a porcaria dos três pontinhos três vezes. Como Pedro negando Cristo. É: talvez eu não tenha mesmo aptidão pra Judas.

Comentários

Monica disse…
Entregue-se aos três pontinhos... Resignado.
"Esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas perdas e colheitas"
(essa vc sabe de quem é).
bjo
Monica disse…
Outra que traduz bem o inacabado dos três pontinhos:
"O Senhor... mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior."
Conformado?
Bê Sant Anna disse…
Que bom que os textos estão dando pano pra manga! É, Guimarães tem mesmo muito a me ensinar. E eu estou beeeem disposto a tentar aprender... Talvez por isso meu trabalho no mestrado seja sobre a obra dele. Acho que se uma pessoa tivesse que escolher apenas um livro pra ler em toda a sua vida, eu indicaria o "Grande Sertão: Veredas", sem sombra de dúvida. Se fossem dois, "Musashi"... Vamos que vamos! Valeu pela colaboração! Bê ijo!
Unknown disse…
Acho que o grande desafio do ator é, pelo menos tentar, representar um personagem diferente do de costume.
Rachel Murta disse…
Eu não acho que os três pontinhos possam dar tanto poder assim ao leitor. Eu acho que eles dão liberdade pra quem escreve, liberdade de deixar vago o que não se completa sempre - por não querer ou não saber dizer o que ainda não está dito. Sem excessos, eles podem encher um texto de possibilidades...

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