No vê-lo


Novelo.

Alegoria mítica, instrumento usado por Teseu para achar o caminho de volta no/do labirinto do Minotauro. 
Instrumento? 
Talvez eu devesse usar a palavra dispositivo, ao invés de instrumento. 
Nas minhas associações semióticas sem compromisso, vejo o novelo como dispositivo, lembro do termo decisivo na estrutura do pensamento do Foucault: 
"Conjunto de resoluções heterogêneas que compõe o discurso, as instituições, instalações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, anúncios científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas... em resumo, tanto o dito quanto o não dito: eis os elementos do dispositivo. É uma rede que se estabelece entre elementos e tem uma função estratégica dominante. É uma manipulação de forças, invenção racional, sempre inscrito no jogo de poder."
(retirado dos meus estudos revisados por minha professora de francês do texto Qu`est-ce qu`un dispositif?)
Interessante... e paradoxal!
Como uma imagem tão confusa de um novelo pode se associar à resolução, como diz o conceito acima? 
Sem dúvida, um paradoxo filosófico alegórico - seja lá o que isso for (ou pareça ser)...
É justamente com o novelo, aquilo que é expressão maior da confusão, da desordem, do sem sentido, que Teseu conseguiu sair do labirinto do Minotauro, um lugar confuso, desordenado, sem sentido... 
Eu, hein?!? Isso mais me parece um Koan (uma espécie de charada zen-budista que intenta promover a iluminação)...
Por falar em iluminação, uma pessoa iluminada acaba de me chamar aqui no MSN. E, curiosamente, ela perguntou:
- Ocupado?
e eu:
- Tô escrevendo um textinho pro blog inédito... mas tá dando trabalho. Fui cair numa idéia e fiquei preso nela...
e ela:
- Será que uma idéia prende a gente?

É... Tá aí.
Se agora eu tivesse um novelo pra me guiar de volta, talvez eu conseguisse sair desse texto sem começo, sem fim, sem mapa, sem medo. 
Aliás, poderia até aproveitar essa última frase pra acabá-lo aqui. Mas faltaria uma observação importante, ligada à idéia que me fez trazer à tona o dispositivo: sim, o novelo deu PODER a Teseu: a SABEDORIA (neste caso, portanto, PODER=SABEDORIA).
Foi desenrolando o novelo que ele SOUBE o caminho de volta...
Mas existem dois detalhes que também não podem ficar de fora:
  1. ele sabia onde estava a ponta do novelo;
  2. ele foi desenrolando aos poucos;
Ah!, e também o ACASO, sem dúvida. Ítem que parece importantíssimo nos jogos filosóficos: Por que será que essa pessoinha iluminada entrou justamente agora no MSN pra me perguntar se  "Será que uma idéia prende a gente?"...

Comentários

Rachel Murta disse…
Uma idéia prende a gente até que ela deixe de ser idéia e vire realização. Pra isso, entra em ação o dispositivo, que desenrola o fio do pensamento e conduz a gente pra solução. Até rimou!
Re Bevilaqua disse…
Se acaso, se coincidência, se sorte ou se simplesmente simples, foi legal demais te conhecer um "poquito más" no pé junto com a galera.
Com aquele tanto de cerva e papo furado, regado à lagartinha no verde (ca pra nós...), não imaginei que era tão "cabeça".
Adorei! Qdo tiver tempo venho filosofar com vc.
Bjão - Renata Bevilaqua

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